O Curiosólogo

revista cultural caseira.
baseada em florianópolis, santa catarina.

Luiz Henrique, suas histórias e estrelas

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Arte: Rodolfo Keoma

Nos anos 60, o músico catarinense fez carreira no Rio de Janeiro e nos Estados Unidos. Mas, a partir de 1971, voltou para Florianópolis e, em sua terra, realizou uma série de ações em prol da cultura.

Por Renan Bernardi

Atualizado pela última vez: 17/01/2023, às 17h16.

A razão desse texto é a razão desse site. Desse blog ou revista. D’O Curiosólogo, enfim. Depois de cinco anos escrevendo sobre cultura em outros portais, resolvi criar o meu. Depois de toda uma vida toda vivida nos interiores do sul, me encontro morando em Florianópolis, uma cidade que de imediato me causou interesse e me resultou muita pesquisa sobre.

Busco com O Curiosólogo tratar da cultura da maneira que a vejo e entendo, e isso define hoje uma visão feita a partir da capital catarinense, mas nunca restrita a ela. Sendo assim, quis começar esse site com uma história que se passasse em Florianópolis, mas que pudesse interessar pessoas curiosas por cultura de qualquer parte do mundo (desde que entendam esse meu português todo torto, é claro). Uma daquelas histórias interessantíssimas que envolvem nomes da cultura brasileira, daquelas que se sempre gostei de ler, ouvir ou assistir. Histórias que, geralmente, se passam em São Paulo ou Rio de Janeiro. Ou mesmo em Recife, Belo Horizonte ou Porto Alegre. Florianópolis, é claro, deve ter algumas dessas.

A que escolhi contar chegou até mim através de uma placa. Estava conhecendo o bairro de Ribeirão da Ilha, em uma tarde fria de fim de semana, quando paro para olhar a placa. Na Praça Hermínio Silva, próxima da calçada. Ao fundo, uma bela igrejinha centenária. Na placa, o título: Hino de Ribeirão da Ilha. Acima dele, o logo da Prefeitura de Florianópolis e uma foto de Antônio Antunes da Cruz acima de seu nome. Abaixo do título, a letra do hino e, abaixo dela, o nome dos autores: Fernando Bastos e Luiz Henrique Rosa, bem como as suas fotos.

Eu já conhecia o nome e algumas músicas de Luiz Henrique. Sabia que tinha morado em Florianópolis, mas não entendia a razão de grande parte de sua obra ser cantada em inglês – achei que ele pouco tinha vivido por aqui, algo como Sérgio Mendes ou Tânia Maria. Mas aquela placa, com o compositor homenageando um bairro da cidade, me fez pensar que sua relação com a capital fosse mais profunda. E, tão logo comecei a pesquisar sobre Luiz Henrique, já descobri que seria ele o tema da minha matéria de estreia n’O Curiosólogo. Era essa a história interessantíssima que eu tinha para contar.

Inclusive, uma das mais interessantíssimas, curiosas e inusitadas histórias que conheço sobre aquela geração que fez a música brasileira bombar nos Estados Unidos na década de 60. A história de um catarinense que, mesmo no Rio de Janeiro, consegue se destacar fazendo bossa nova. A história de um músico brasileiro que ganha a confiança e a admiração de grandes nomes da música norte-americana de seu tempo. Mas, principalmente, a história de um homem apaixonado por Florianópolis. Tão apaixonado ao ponto de abandonar “as estrelas” dos grandes centros para fazer, da Ilha de Santa Catarina, o seu centro.

“Lá de Florianópolis / De onde vem esse cantor

Luiz Henrique Fernandes da Rosa, na verdade, nasceu em Tubarão, cidade do Sul catarinense.  Seu pai, membro do Partido Social Democrático (PSD), era fiscal da fazenda do Governo Estadual. Isso, depois de ter sido futebolista profissional. Na época, a rixa entre as oligarquias das famílias Ramos e Konder Bornhausen no comando do Estado fizeram a família Rosa morar em diferentes cidades por um bom tempo. “Quando o governo era da União Democrática Nacional (UDN), meu pai trabalhava em cidades piores – quer dizer, cidades menores. E quando o governo era PSD, a gente ficava em Florianópolis, que era onde ele gostava mais”, disse Luiz Henrique em entrevista para Aramis Millarch em 1979.

Certo é que, a partir dos 11 anos de idade, Luiz e a família se fixam na capital catarinense, morando em uma charmosa casinha na Avenida Rio Branco. A casinha, inclusive, ainda está lá – hoje funciona o Núcleo de Educação Infantil Municipal (NEIM) Bem-te-vi.

Morando no Centro de Florianópolis, Luiz cresceu curtindo a vida da cidade, passeando pela Praia da Saudade, por Itaguaçu, Lagoa da Conceição. Se interessava pela Banda da Polícia que passava ensaiando na sua rua e por futebol, que dizem que ele também mandava bem, seguindo os passos de seu pai. Estudava no Instituto Estadual de Educação (IEE) e era o mais velho de oito irmãos. Ele, o único homem.

Começou na música assim que pode. Primeiro tocava percussão e, perto dos 18 anos, começa a tocar violão pra valer – instrumento que o acompanha pelo resto da vida. Ainda como ritmista, participou do grupo de Vilma & Seu Conjunto, em São José, na Grande Florianópolis. Depois, o grupo se torna Os Melódicos, onde Luiz já aparece cantando (em inglês), conforme as gravações apresentadas no filme Luiz Henrique – No Balanço do Mar, de Ieda Beck.

Ainda nessa primeira fase de sua carreira, já podemos perceber o envolvimento multiplataforma de Luiz em relação à música, à cultura e à vida artística. Em 1957, ele já possuía o seu próprio programa na rádio Diário da Manhã, o Gente Nossa. Nessa época, já exímio instrumentista e cantor, aficionado por João Gilberto e a bossa nova, iniciava também as suas primeiras composições. Exercia todas essas atividades paralelamente à sua ocupação de desenhista profissional do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), posição que assumiu próximo aos 20 anos de idade.

Depois, já nos anos 60, Luiz também criaria a sua própria casa de shows, a Samburá, que teve a sua primeira sede próxima ao Palácio do Governo do Estado (também conhecido por Palácio Cruz e Sousa), no segundo andar de um restaurante. “Em Florianópolis não existia música ao vivo em lugar nenhum, bar nenhum. Ele foi o primeiro que introduziu a música ao vivo, coletando os músicos bons que existiam em Florianópolis. Eles não tocavam em bares e restaurantes, os músicos praticamente só tocavam nos clubes, no Praia Clube [hoje, Clube 12 de Agosto, em Coqueiros], no Lira [Lira Tênis Clube, no Centro] nos bailes que haviam”, foi o que me disse Vera Rosa, a penúltima irmã mais nova de Luiz Henrique, quando a entrevistei para essa matéria.

Sendo, desde a juventude, um agitador cultural de Florianópolis, sua obra e figura logo chamaram a atenção de músicos de outros lugares. Norberto Baldauf e sua orquestra costumavam vir de Porto Alegre para tocar nesses tradicionais clubes mencionados por Vera. Em uma dessas ocasiões, convidam Luiz Henrique para passar um período com eles e lá foram, ao que parece, dias de curtição e muita música, onde ele fez parte da banda de Norberto e, com ela, excursionou por algum tempo.

Ele já havia retornado para Florianópolis quando descobriu que Norberto havia gravado “Se Amor É Isso” em seu novo LP.  Parceria com o poeta e compositor Zininho, “Se Amor É Isso” é a primeira gravação oficial de uma obra de autoria de Luiz Henrique.

No show de lançamento desse álbum, Luiz vai a Porto Alegre participar da apresentação. Lá, encontrou João Araújo, na época diretor da Phillips (depois, também foi presidente da Som Livre e pai do Cazuza). João gostou de Luiz e pediu para ele procurá-lo no Rio de Janeiro. E assim Luiz fez.

Nas minhas pesquisas, encontrei datas que divergem, mas creio que foi por volta de 1961 ou 1962 que surge essa primeira gravação oficial da carreira artística de Luiz Henrique: um compacto com “Se Amor É Isso” e “A Rosa e o Jasmin”, também composição de Zininho.

Depois do resultado positivo do contato com João Araújo, Luiz retorna ao Rio de Janeiro e tenta falar com outro João: um ainda mais importante e influente. Ilmar Carvalho era um crítico musical joinvillense que, na época, já atuava no Rio de Janeiro. Foi para ele que Luiz Henrique pediu que lhe enviasse um bilhete de apresentação para João Gilberto.

Naquele momento, o artista baiano já havia lançado a sua trilogia de álbuns arranjados por Antônio Carlos JobimChega de Saudade (1959), O Amor, o Sorriso e a Flor (1960) e João Gilberto (1961) – e já era considerado uma referência para um grande número de jovens músicos que se encantavam com as novidades apresentadas ali. Luiz Henrique era, com certeza, um desses jovens.

João Gilberto aceitou o convite de Luiz e o recebeu em casa para ouvi-lo pessoalmente. Na mesma semana, Luiz era introduzido com honra no Beco das Garrafas, o reduto de bares onde importantes e novos nomes da música brasileira se apresentavam.

Bar Bacará, Bottle’s Bar. Luiz Henrique dividia palcos e noites com Jorge Ben, Flora Purim, Tamba Trio, Nara Leão, Wilson Simonal, Luís Carlos Vinhas e Elis Regina, com quem também fez show especial em São Paulo, na boate Djalma’s, produzido por Armando Pittigliani.

Entre idas e vindas, mantinha e tocava no seu Samburá em Florianópolis, onde, a essa altura, também já contava com seu próprio conjunto, Os Bossaquatro.

O já citado Armando Pittigliani era, na época, diretor artístico da Companhia Brasileira de Discos. Foi produtor, entre outros discos emblemáticos desse período, de Samba Esquema Novo (1963), de Jorge Ben. Um dia, sua secretária o chama dizendo que havia um cantor e compositor “lá da sua terra, lá de Santa Catarina” que queria apresentar-se. Assim ele conhece Luiz Henrique, que logo foi encantando-o com suas composições e interpretações. Armando propôs, naquele mesmo momento, ser o produtor de um compacto duplo de Luiz. E também de um LP.

O compacto em questão trouxe a faixa “Garota da Rua da Praia”, de Luiz Henrique, como destaque. Além dela, o disco ainda contou com “Garota de Ipanema” (clássico de Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes), “Batida Diferente” (de Durval Ferreira e Maurício Einhorn) e “Samba Novo” (de Durval e Newton Chaves). Na contracapa desse lançamento vemos esse texto, do próprio Armando, falando sobre a construção da sonoridade apresentada, sendo metade responsável pela turma florianopolitana d’Os Bossaquatro e, a outra parte, com os excelentes músicos de estúdio da Phillips naquele momento, que formavam o Copa 5.

O aguardado LP sai no mesmo ano de 1963. A Bossa Moderna de Luiz Henrique é um registro sonoro que, mesmo característico das produções bossa novistas da época, mostra a singularidade da batida do violão de Luiz Henrique, um balanço diferenciado, vindo de outras praias. Um balanço mais Itaguaçu do que Ipanema. Caras como Vinícius de Moraes, Marcos Valle, Jorge Ben e Roberto Menescal também perceberam isso.

Outro músico que tem papel fundamental no som dos primeiros lançamentos de Luiz Henrique é Dom Salvador, que participa dos pianos do compacto, do álbum e também de um outro compacto, esse ao vivo, em que, nos exatos 1:45 da faixa abaixo, podemos ouvir Luiz chamando Salvador para o seu belo solo:

Em 1964, Luiz Henrique era par dos principais músicos da Phillips, onde os discos brasileiros mais reconhecidos da época foram gravados. Neste ano, os brasileiros já tinham ido ao Carnegie Hall apresentar a bossa nova; Miles Davis e Gill Evans já haviam feito o Quiet Nights; João Gilberto e Tom Jobim já tinham discos editados nos Estados Unidos. Dado esse contexto, fica mais fácil explicar que Luiz Henrique estava na casa de Luiz Eça (pianista do Tamba Trio), no Rio de Janeiro, quando Paul Winter o convidou para excursionar com ele pelos Estados Unidos.

Winter era um músico de jazz que, como tantos outros músicos de jazz, estava admirado com a estética bossanovista e buscava incorporá-la ao seu conjunto. Após ouvir o violão e a voz de Luiz Henrique no Rio de Janeiro, decidiu que ele seria o componente perfeito para a renovação do seu som.

“I Was Afraid

Logo quando você abre o site oficial de Luiz Henrique, encontra o seguinte depoimento, assinado por ele mesmo: “Para qualquer brasileiro a data seria inesquecível – dia seis de setembro à noite embarque no aeroporto do Galeão, e dia sete de setembro às sete da manhã chegada em Nova Iorque (1964). No anoitecer do dia seis, no terraço do apartamento de minha tia no Rio de Janeiro, aconteceu algo que além de ter-me tocado profundamente, ficou marcado pro resto da minha vida. De repente, em meio a toda agitação natural de qualquer viagem, ‘primeira vez’ para Nova Iorque, me vi sozinho no terraço. Envolto na linda noite carioca me perguntava, que loucura era aquela que me atirava num foguete em direção aos Estados Unidos? Uma passagem de ida e volta pela Varig, 50 dólares (emprestados) no bolso e mais uma promessa de 500 dólares do Itamarati. Era uma aventura mesmo! Mas por quê? – se ao menos eu tivesse uma dica, um sinal… Foi aí que uma doce estrela cintilante riscou o céu azul marinho como que me dizendo ‘vai que é quente’. Eu fui e a estrela estava certa.”

Quando chegou em solo estadunidense, Luiz Henrique ligou para Hélcio Milito, baterista do Tamba Trio que estava morando em New York há pouco tempo. Hélcio lhe deu o endereço: 123 west 44th street, esquina da Broadway com Times Square. O nome do hotel era 123.

No mesmíssimo quarto do hotel, além de Hélcio, Luiz também dividia o espaço com Sivuca e Dom Um Romão, dois músicos que participariam diretamente na música do catarinense nos anos seguintes.

Andou pelas ruas nova-iorquinas também com outros brasileiros. Flora Purim e Airto Moreira moravam por lá e, costumeiramente, abrigaram caras como Tim Maia, João Palma e o próprio Luiz em seu apartamento. Frequentavam o Café Feenjon (ou Café Feijões, como os conterrâneos o chamavam) e se emocionavam ao ouvir João Gilberto fazer sucesso nas rádios da cidade.

Se adaptando ao clima e às tantas novidades de uma cidade como aquela, Luiz demorou para ligar para Paul Winter, que havia feito o convite e justificado a sua ida aos Estados Unidos. Quando o fez, prontamente ingressou no The Paul Winter Sextet (o conjunto de jazz favorito do presidente Kennedy, segundo as anotações do próprio Luiz). Junto dele, que cantava (inclusive em português) e tocava o seu violão, estavam músicos do calibre de Cecil McBee, Freddie Waits, Jeremy Steig e Warren Bernhardt.

Quando seu visto de turista venceu, veio ao Brasil apenas para renová-lo e, ao retornar para New York, já não era mais apenas um músico acompanhante de Paul Winter. Aliás, torna-se acompanhante de muita gente. Passa cerca de três meses no The Cafe Au Go Go, popular clube noturno de Greenwich Village, sendo o “and”. Stan Getz and Luiz Henrique. Max Roach and Luiz Henrique. Astrud Gilberto and Luiz Henrique. Chick Correa and Luiz Henrique. E com figuras como essas excursiona pelos Estados Unidos e até para o Japão.

Essa posição subalterna muda quando conhece Oscar Brown Jr, famoso cantor e compositor de soul music. “Finding A New Friend”, canção em parceria dos dois e nome do álbum que realizaram juntos, é um título didático para falar da amizade que se cria entre os músicos. Oscar, já estabelecido em seu cenário e buscando uma nova sonoridade para o seu trabalho. Luiz, começando a conhecer o território da cena já desbravada por Oscar, tinha em seu violão o som que o outro buscava.

Gravado em Chicago no ano de 1965, Finding A New Friend foi muito bem recebido por público e crítica. Mas o grande sucesso da dupla viria com o musical da Broadway chamado Joy, em que Luiz fez a trilha sonora que mais tarde acabou sendo nominada no Tony Awards. Sivuca também estava nessa banda. Com o musical, se apresentaram durante um ano em Chicago, um ano em San Francisco e mais um ano em New York.

Foi durante as apresentações em Chicago que Luiz conheceu Liza Minnelli. Na época, a estrela da música e do cinema ainda era uma jovem despontando em suas primeiras aparições significantes da carreira. Um namoro breve entre os dois resultou em uma amizade que durou enquanto ambos estiveram vivos.

Em 1966, novamente em Chicago, Luiz grava o seu segundo álbum solo, o primeiro em território americano. Listen To Me, como foi chamado, já apresentava um músico se abrindo para novas sonoridades, levando os caminhos da bossa nova para resultados muito singulares. Sivuca assina os arranjos. Dom Um Romão, as baquetas.

No ano seguinte, novamente com arranjos de Sivuca, vem o álbum Barra Limpa. Esse é meu trabalho favorito da fase norte-americana de Luiz Henrique. Além de apresentar algumas das suas composições mais importantes, como “Minha Lagoa” e “A Waltz For Diane”, ainda renova outras de suas canções, como “Listen To Me”, “If You Want To Be A Lover” e “Alicinha”, dando a elas um trato mais sofisticado. O álbum ainda conta com ótimas releituras de “Vivo Sonhando”, de Tom Jobim e “Mas Que Nada”, de Jorge Ben, que lhe renderiam certo reconhecimento ao longo dos anos. Liza Minnelli é a responsável pelo texto de apresentação, onde fala coisas como “Luiz me ensinou que há instrumentos que você assopra, outros que você bate – o violão, você abraça. Assim eu entendo toda a música de Luiz Henrique: como um abraço.”

Também em 1967, é lançado o álbum Popcorn, feito em parceria com o músico brasileiro Walter Wanderley. Com características visíveis do órgão de Walter, o trabalho traz canções de Luiz e outros artistas repensadas a partir de uma sonoridade influenciada pela música da América Central, por bossa, jazz, soul. Tudo em um trabalho instrumental muito rico e suingado. É em Popcorn que canções como “Florianópolis” e “Blue Island” foram apresentadas pela primeira vez em disco.

Além de álbuns solos e em parceria, Luiz Henrique também esteve presente em trabalhos de outros artistas no seu período nos Estados Unidos. Um deles é o álbum Bobby/Billy/Brasil, dos pistonistas Bobby Hacket e Billy Butterfield. Gravado em 1968, Luiz participou arranjando, cantando e tocando violão, além de inserir composições suas.

No álbum The Great Electric Experiment Is Over, que Noel Harrison lançou em 1969, Luiz é arranjador, violonista e condutor. Neste, Noel canta a canção “Blue Island”, arriscando-se inclusive na parte em português.

Seu reconhecimento no cenário norte-americano da época pode ser percebido não só pelas gravações em que fez e participou. Nem só pelos músicos com quem tocou e trocou experiências. Também as composições de Luiz foram gravadas por nomes importantes da época, como Harry Belafonte, Nancy Wilson, Charlie Byrd, Call Tjader e a própria Liza Minnelli que, no final dos anos 60, gravou “Listen To Me”, “Alicinha” e “Once In A Lifetime” junto com Luiz Henrique, João Palma e Chick Correa. Infelizmente, essas gravações de Liza só foram publicadas em 2009 e o próprio Luiz nunca chegou a ouvi-las quando prontas.

“Não posso mais / Que saudade do Brasil / Ai, que vontade que eu tenho de voltar

O músico e compositor florianopolitano Orlando Carlos da Silveira Mello, mais conhecido por Neco, em entrevista concedida para essa matéria, me disse que esteve com Sivuca em uma ocasião onde o músico veio se apresentar em Criciúma nos anos 80. Na conversa com o artista paraibano, falaram de Luiz Henrique, amigo comum de ambos. Neco conta que Sivuca lhe disse que “de todos eles [os brasileiros que foram para os EUA na época], o que realmente despontou nos Estados Unidos foi Luiz Henrique. Todo lugar que ele entrava, abriam as portas para ele. Primeiro que ele dominava o inglês perfeitamente e, segundo, pelo violão dele. O violão dele era bossa nova, mas era uma coisa moderna, uma coisa diferente. Mesmo nos Estados Unidos, na época, as pessoas ficaram admiradas, surpresas de ver o cara tocar jazz, bossa nova com tanta originalidade, uma levada toda dele. Uma coisa própria.”

Sabendo desse reconhecimento que Luiz tinha no cenário estadunidense, é muito curioso o fato de, logo em 1971, com sua carreira estabelecida, ele retornar definitivamente para Florianópolis.

Daquela geração de músicos e artistas brasileiros que morou nos Estados Unidos naqueles anos, Luiz deve ter sido um dos primeiros a voltar ao Brasil. Caras como Tom Jobim e João Gilberto voltariam só muito tempo depois, assim como o próprio Sivuca e muitos outros. Mas, diferente desses, Luiz não retornaria para construir uma carreira artística nas grandes cidades brasileiras, como Rio e São Paulo. Retornaria para Florianópolis, e aqui viveria os últimos 14 anos de sua vida.

Uma carreira quase que meteórica, gerando um retorno antecipado e trazendo dos Estados Unidos um Luiz Henrique muito influenciado pela cultura norte-americana, com roupas e atitudes flower power, foi algo que gerou uma série de especulações e justificativas por parte da população de Florianópolis que, na época, era uma cidade bem mais pacata e provinciana do que hoje.

Justificativas que vão desde as mais polêmicas, como quando sua irmã Regina disse para um jornal que Luiz “gastou o que tinha e voltou só com o estojo do violão”, até outras mais lúdicas, como a que me contou outro músico florianopolitano, Josué Irineu da Silva, também em entrevista para essa matéria. “Tem algo que ele, Luiz, contou pra mim lá no Armazém Vieira, em 1985 – ele trabalhava lá, foi gerente lá – ele me falou que ele voltou dos Estados Unidos pra cá porque ele não queria ‘as estrelas’. Ele quis dizer que ele não queria as estrelas dos dólares, ele não queria fortuna, não queria aquele estrelismo, né? Digamos assim.”

Já sua outra irmã, Vera, tem uma explicação bem mais íntima para o seu retorno. “A minha mãe ficou doente e ele veio só para visitá-la, tanto é que veio com uma mala de mão, uma malinha. Deixou tudo pra trás, depois é que ele resolveu ficar e então trouxe o resto das coisas de volta pro Brasil. Mas ele veio porque minha mãe ficou doente, depois ela morreu e ele não voltou mais.”

Seja qual for a verdadeira motivação, fato é que, em 1971, Luiz Henrique era um morador do bairro de Coqueiros, na parte continental da capital catarinense. E, assim sendo, resolveu retomar as suas movimentações pela cidade.

Sua primeira empreitada foi reabrir o seu bar Samburá, agora na Praia da Saudade, perto de onde morava. Foi nesse período que o já citado compositor Neco o conheceu. “Havia o Praia Clube, que o Clube 12 de Agosto comprou depois. Tinha uma sede, um prédio grande lá, e se faziam muitos eventos. E eu, menino, vivia brincando ali onde tem um trampolim, mergulhando, nadando e tocava um pouquinho de violão. Um dia eu vi as portas de baixo do prédio, onde havia um salão grande que dava praticamente na escada que dava pra praia. Escutei aquela música diferente, maravilhosa, moderna e eu fui lá espiar ver o que era: foi aí que conheci o Luiz Henrique. Ali, eles tocavam sexta e sábado, às vezes domingo também. […] Não lembro se a banda tinha nome, mas eu ia nos ensaios e via eles tocando muita bossa nova, muito samba-canção, muito jazz – isso ele foi um pioneiro nessa parte.”

Quando Luiz retorna dos Estados Unidos, sua irmã Vera é jovem e solteira. Luiz também está solteiro, divorciado de sua primeira esposa Márcia Lehmkuhl, a mãe de Alicinha – a filha para a qual ele fez uma de suas mais famosas canções. Assim, os irmãos Rosa se tornam amigos inseparáveis. Vera acompanhou de perto a reabertura do Samburá em Coqueiros e diz que o projeto acabou não sendo muito bem sucedido. “Primeiro porque era longe da cidade, né? as pessoas não eram acostumadas a dirigir assim pra longe na vida noturna, não era todo mundo que tinha carro. Daí ficou um pouco difícil, não tinha muito movimento, mas era um lugar que, quem morava ali em Coqueiros, nós e vários amigos, fazíamos ali uma reunião musical e dava um clima bem legal, mas não foi um lugar que encheu e ficou por muito tempo não.”

Após os primeiros anos de volta para Florianópolis, Luiz decide residir definitivamente na sua cidade e manda buscar suas coisas que ainda estavam nos Estados Unidos. Entre elas, equipamentos de gravação. “Ele trouxe a aparelhagem que ele já tinha nos Estados Unidos, que tinha ficado pra trás quando veio pro Brasil, né? Aí um amigo dele trouxe e ele montou o estúdio de gravação dele em Florianópolis”, conta Vera, que ainda informa que esse primeiro estúdio de Luiz Henrique ficava na Rua Felipe Schmidt, próximo ao Lira Tênis Clube, em um apartamento alugado de um amigo.

Foi nesse pequeno estúdio que, em 1973, Luiz faz uma de suas gravações mais emblemáticas: o Hino do Avaí Futebol Clube, o seu time do coração. Essa gravação marca também o primeiro lançamento da Itagra, selo de Luiz com o qual ele faria outros trabalhos importantes. Composta em parceria com Fernando Bastos, esse registro do Hino do Avaí ainda conta com João Palma na bateria e a própria Vera Rosa fazendo os vocais de apoio.

Conforme já mencionado, Neco conheceu Luiz quando ainda era um menino, vendo seus ensaios no Samburá da Praia da Saudade. No meio dos anos 70, já mais amadurecido, Neco comporia a canção “Barra da Lagoa”, clássico catarinense mais conhecido pela gravação feita pelo Grupo Engenho em 1980, mas que, muito antes de ser gravada, já era um sucesso popular nos bares e bailes da cidade.

Neco me falou que Luiz sempre foi muito bacana com ele, mas que a partir do momento em que lhe mostrou essa composição, o músico começou a olhar para ele com outro olhar. “Ele tinha uma consideração comigo, e eu achava bacana. Ainda mais vindo dele, né?”

A primeira gravação de “Barra da Lagoa” foi feita pelo grupo V Zero, um embrião do Grupo Engenho que já contava com Alisson Mota como compositor e vocalista. Ao ouvirem essa gravação, tanto Luiz Henrique quanto Zininho ficaram muito encantados e começaram a incentivar Neco, que acabou gravando, em Porto Alegre, um belo compacto em 1982, contando com nomes como Letieres Leite, Luiz Meira, Alegre Corrêa, Joel Brito, Lauro Bandeira e Márcio Correia nas gravações.

Vera ratifica essa posição de incentivador de Luiz para com os músicos florianopolitanos da época. “Tanto é que ele criou o estúdio sem ganância nenhuma, era mais pra receber os amigos, abrir oportunidades para os músicos de Florianópolis, que isso era uma coisa muito forte nele. Ele conhecia esses músicos maravilhosos que não tinham essas oportunidades, porque eram pessoas muito simples, sem condições de sair para gravar em lugar nenhum.”

Foi em mais de uma ocasião que Luiz tentou montar um estúdio na cidade. Além desse na Rua Felipe Schmidt, onde foi gravado o Hino do Avaí, também houve outro montado em 1974, em uma parceria com Zininho, o Inassom. Depois, ainda haveria o Gamasom (Gravação da Imagem e do Som), onde ele gravaria outros trabalhos importantes.

“Queria uma vida que fosse mais sua

Mesmo com seu selo e equipamentos de gravação, quando Luiz Henrique reuniu músicas para um novo álbum, preferiu fazer isso em estúdios profissionais de outros centros, possivelmente pelos poucos recursos que conseguiu reunir em seu estúdio independente em Florianópolis.

Composto e com as demos já montadas em Santa Catarina, o álbum Mestiço teve sua primeira parte gravada em Los Angeles, nos estúdios da Sound City, em março de 1975. As faixas feitas lá foram produzidas por Liza Minnelli.

A segunda parte do projeto foi gravada no Rio de Janeiro, entre maio e setembro do mesmo ano. Dessas gravações, participaram grandes nomes da música brasileira como Tenório Jr, Edson Machado, Laércio Freitas, Paulinho Braga, Luizão Maia, Edson Lobo, Hugo Bellard e Meirelles, que também assina arranjos.

Lançado pelo selo Itagra e distribuído pela Tapecar, Mestiço apresenta uma sonoridade muito nova na obra de Luiz Henrique. Mantendo o violão como instrumento principal, o álbum traz um som mais imersivo e etéreo nos arranjos, indo da experiência catártica e progressiva de “Jandira”, passando pelas levadas sambadas de “Mestiço”, “Sonhar” e “Pra Não Deixar de Sambar”, o minimalismo de “Saiandera” e “Dianne” (uma versão de “Waltz for Dianne”) e o final jazz-fusion-jam-session de “Sempre Amor” (mais uma versão da canção também já chamada de “Amor 6×8” e “If You Want To Be A Lover”).

Apesar de trazer releituras de músicas que já havia gravado, Mestiço é marcado principalmente pelas novas parcerias e experiências artísticas que Luiz teve em Florianópolis, através das amizades que criou e retomou em seu retorno. Raul Caldas Filho, escritor e amigo próximo de Luiz nesse período, é parceiro e letrista em duas composições do álbum: “Jandira” e “Sonhar”. O artista plástico Hassis, que também iria trabalhar com Luiz em outros projetos, assina a capa do álbum com um desenho psicodélico, bem digno dessa nova face que Luiz manifesta no trabalho.

Estamos aí!

Outras iniciativas de Luiz Henrique em prol da promoção dos artistas catarinenses vieram através dos meios de comunicação. Em 1978, ele inicia um programa televisivo bimensal chamado Estamos Aí. Transmitido para todo o Estado de Santa Catarina através da TV Cultura de Florianópolis, Luiz era responsável pela produção, direção e apresentação do programa, onde entrevistava artistas regionais e também de outros cantos do Brasil, nas ocasiões em que esses se encontravam na capital catarinense. Além, é claro, de sempre dar uma canja com seu violão.

O músico Josué, já citado anteriormente, esteve entre os convidados do programa. “Eu participei duas vezes do programa Estamos Aí, que o Luiz Henrique tinha na TV Cultura. A primeira vez foi uma entrevista comigo, que eu não lembro exatamente nossa conversa, mas provavelmente eu também toquei algo de MPB ou bossa nova durante esse programa. E depois, na outra vez que fui, foi para acompanhar um rapaz que fazia imitação de trompete com a boca, aí lembro que o Luiz até brincou, mandando um recado para o Djalma [trompetista florianopolitano da época], falando que ele podia aposentar o seu corn.”

Com o passar dos anos e dos donos, o prédio e a estrutura onde era a TV Cultura é onde hoje funcionam as atividades do Grupo ND que, entre outros projetos, representa a versão catarinense da Record. Nesses processos de transição, o acervo do Estamos Aí não foi preservado e pouco sobre o programa pode ser acessado hoje. Uma exceção é essa entrevista, publicada no canal oficial de Luiz Henrique no Instagram, onde o músico entrevista seu amigo Sivuca e com ele toca “Minha Lagoa”:

Além do programa de TV, Luiz também produziu pelo menos dois filmes: um em 35mm sobre Cruz e Sousa, onde compôs e apresentou a trilha sonora; e outro com ilustrações de Hassis, chamado “Itaguaçu”.

Luiz também teve um jornal independente durante esse período. O Galera da Ilha trazia notícias sobre artistas locais, como Meyer Filho, além de apresentar alguns de seus trabalhos. Isso também mostra a atenção e atuação abrangente de Luiz na cultura de sua cidade.

Mas a música, sempre protagonista, nunca parou na vida desse grande cantor e violonista. Mesmo morando em Florianópolis, a relação que construiu com os músicos que conheceu em sua carreira ainda se manteve – de maneira bem mais discreta, é claro.

Em 1975, quando estava no Rio de Janeiro para as gravações de Mestiço, é procurado por Astrud Gilberto para realizar uma turnê no Japão com ela. Foram shows em dois atos, um de cada artista, que passaram por 12 cidades do país. Em 1979, Liza Minelli vem para o Brasil e convida Luiz para uma série de apresentações em São Paulo e Rio de Janeiro. No mesmo ano, excursiona pelos Estados Unidos através do programa Companheiro das Américas, onde passou por seis universidades do Estado da Virgínia, falando e apresentando a música e a cultura de Santa Catarina. Em Florianópolis, convida e promove shows de artistas nacionais de renome, como Baden Powell e o próprio Sivuca.

Episódio do programa Estamos Aí que apresenta a participação de Luiz Henrique no show de Baden Powel, no Teatro Álvaro de Carvalho.

Esteve em 1979 em Curitiba para a gravação de uma série de músicas que comporiam seu mais novo álbum de estúdio. Nunca finalizado por Luiz Henrique, o EP, chamado de Girassol, é hoje inédito e está sob os cuidados de Raulino Rosa, filho de Luiz que gerencia a memória de seu pai há mais de 20 anos. Entrevistado para essa matéria, Raulino me disse que “até disponibilizei o Girassol tempos atrás, mas depois eu tirei, porque eu acho que merece um tratamento melhor, sabe? Não simplesmente colocar nas plataformas. Isso aconteceu porque eu era muito ingênuo no início.”

“Carnaval / Quanta alegria / Quanto riso, quanta cor

A relação de Luiz Henrique com o carnaval de sua cidade também é algo digno de nota, pois são diversas as ações do artista na promoção e exaltação do evento. Na canção “Florianópolis”, lançada em 1967 no álbum com Walter Wanderley, o carnaval é citado como um dos atrativos da capital catarinense. Sendo feita em seu período nos Estados Unidos e, portanto, há muito tempo longe de sua terra, é de se imaginar que a ligação de Luiz com a folia florianopolitana venha desde sua juventude na cidade.

Mas é em seu período de retorno, a partir de 1971, que essa ligação fica mais evidente. A começar pela criação do bloco de carnaval Banda de Amor À Ilha, que desfilava nas ruas de Florianópolis entre os anos 70 e 80. Paralelamente, Luiz também foi compositor dos sambas-enredos de 1978 e 1982 da Escola Acadêmicos do Samba de Barreiros, de São José (Grande Florianópolis), com as canções “Folclore” e “Sonho de um Rei”, respectivamente.

Em 1981, pela sua gravadora Gamasom, lança o álbum Carnaval na Ilha, com a gravação de todos os sambas-enredos das escolas que disputaram no carnaval daquele ano.

Um dos fatos mais inusitados envolvendo Luiz Henrique e Florianópolis também aconteceu em um carnaval. Era 1979 e, depois da temporada de shows que fez com Liza Minnelli no Rio e São Paulo, o cantor convida sua amiga para conhecer o carnaval de sua terra. E ela aceita!

A notícia da visita de uma estrela internacional na Ilha de Santa Catarina abalou a cidade ainda um dia antes de sua chegada. Beto Stodieck, conhecidíssimo colunista florianopolitano da época, soube do ocorrido e publicou no jornal O Estado e, no dia do desembarque de Liza, uma multidão de fãs e repórteres já a esperava no aeroporto.

Nessa época, a norte-americana não era mais a cantora promissora que Luiz conheceu, mas sim uma artista que já colecionava premiações por sua atuação no teatro, na música e, principalmente, no cinema. Isso, somado ao fato de Florianópolis ter, neste mesmo período, cerca de apenas 150 mil habitantes, dá margem para imaginar o alvoroço da população com o inusitado que acontecia.

Sinfonia de Santa Catarina

Além do carnaval, Luiz também foi agente direto na promoção da cultura regional catarinense. Em seus últimos anos de vida, promoveu o show musical intitulado Bananeira Chorá Chorá, contando com uma adaptação de canções apresentadas nas danças do Boi de Mamão, atividade cultural típica, predominantemente, no litoral catarinense.

Mas sua grande iniciativa nesse sentido se deu em 1984, quando promoveu a Sinfonia de Santa Catarina. Para tal, além de convidar o maestro Hélio Teixeira da Rosa para reger a orquestra, convidou também um velho amigo seu para ajudá-lo na composição: simplesmente Hermeto Pascoal.

Luiz conheceu Hermeto quando este foi para os Estados Unidos a convite de Airto Moreira. Nesses primeiros dias por lá, Hermeto teve o quarto de Luiz como refúgio e o cantor catarinense, que já estava estabelecido no país e falante de inglês, como intérprete pessoal.

Vera, a irmã de Luiz, esteve por perto e inclusive ajudou na produção do espetáculo. Ela me contou que o processo de composição da Sinfonia se deu de maneira quase natural. “Primeiro passo foi sair com o Hermeto pela Ilha pra ele saber da nossa cultura, mostrando o trabalho das rendeiras, pelo som dos bilros, as dunas da Lagoa, mostrando a Ilha em si, né? A beleza da nossa Ilha pro Hermeto se inspirar. Depois disso, eles alugaram um espaço onde eles colocaram um piano de cauda e ali eles fizeram a composição da Sinfonia de Santa Catarina os dois, o Hermeto no piano, ele violão e ali ficaram dias e dias trancados os dois fazendo isso.”

No documentário de Ieda Beck, o maestro Hélio ainda acrescenta a presença dele e do violonista Glauco Vasconcelos nessas viagens – de carro e de som – com Luiz e Hermeto.

Apresentada no Teatro Ademir Rosa, no Centro Integrado de Cultura (CIC) de Florianópolis, a Sinfonia mescla peças sinfônicas com inserções de canções populares que visam abranger a cultura local de Santa Catarina. Nisso, destaca-se a inclusão dos cantos de Boi de Mamão e a estrutura de repente que a brincadeira pede.

As peças sinfônicas buscam homenagear as diferentes regiões de Santa Catarina, com Hermeto se baseando em melodias populares para extrapolá-las em caminhos melódicos estendidos que, de susto, nos voltam aos ouvidos como frases cantáveis. Destaque para a experimental obra que homenageia as rendeiras de Florianópolis, onde representantes da classe usam o instrumento de trabalho como veículo percussivo em uma performance dissonante. Destaque também para a apresentação, solo ao piano, que Hermeto faz para falar da cidade de Laguna.

Próximo ao fim do show, o músico e historiador Vicente Telles faz uma longa participação para falar sobre a história do Oeste do Estado e sobre a Guerra do Contestado, o maior conflito armado da história de Santa Catarina, que aconteceu nesta região. Uma parte que se desloca do resto da Sinfonia pela sua violência e verborragia. Vicente alterna entre o seu discurso histórico e apaixonado com intervenções curtas de melodias em sua gaita ponto. A Sinfonia é finalizada com Vicente e Luiz – voz, gaita e violão – cantando canções populares.

A apresentação da Sinfonia no Teatro Ademir Rosa ainda contou com a participação da cantora lírica Ruth Gebler, esculturas de Franklyn Cascaes e pinturas de Hassis, Martinho de Haro e Willy Zumblick.

O Armazém Vieira

Em 1985, Luiz buscava abrir um bar para, mais uma vez, promover a música e a vida noturna em Florianópolis. Vera era, mais uma vez, sua companheira nessa empreitada.

“A história do Armazém Vieira é uma história muito triste. Aconteceu assim, do nada. A gente nem sabia que existia o Armazém Vieira. Eu e Luiz estávamos procurando um lugar pra abrir um bar, e a gente soube que na Praia Mole tinha um espaço, que era de um amigo dele, que lhe ofereceram pra isso. Aí nós dirigimos até lá, era frio, meio chuvoso, fomos e olhamos o lugar. Quando a gente tava voltando, subindo ali a picadinha da praia, a gente vê um homem descendo na nossa direção, não tinha mais ninguém lá. Quando ele cruzou a gente, ele parou e perguntou ‘você, por acaso, é o Luiz Henrique?’, aí a gente levou até um susto, mas meu irmão disse que sim e o moço pediu desculpas e disse que tava tentando falar com ele faz tempo, que queria saber se Luiz não queria conhecer um espaço que ele estava abrindo e se não se interessaria em ser gerente, ficar com a parte da promoção dos músicos, grupos. Aí a gente, que tava justamente procurando um lugar pra abrir um bar, fomos com o moço conhecer, não custa ver, né? Quando chegamos lá, estava o Armazém lindo e maravilhoso, todo pronto. Esse rapaz, o [Wolfgang] Schrader, alemão que trabalhava na EletroSul, era uma pessoa que não conhecia ninguém em Florianópolis, né? Ele era do Rio de Janeiro e veio morar lá, soube que o Luiz Henrique era uma pessoa que a cidade conhecia e ele gostaria de ter uma pessoa assim no lugar.”

O lugar era exatamente como os irmãos Rosa estavam pensando, a única diferença é que não seria deles, apenas seriam responsáveis por ajudar a tocar. “Aí ele me falou ‘Verinha, se tu topares ir comigo nessa, eu vou!’ e eu disse ‘Vambora!’. E aí eu devo ter sido uma das primeiras garçonetes mulher da Ilha, convidei mais umas duas amigas que achei que iriam concordar, porque realmente não existia garçonete mulher na época. Daí elas foram, fiz até um uniforme bem bonitinho pra nós. E o Armazém foi um sucesso, dava fila na rua pra entrar. Governador, prefeito, alta sociedade todinha começou a ir, só foi tudo de bom, mas infelizmente isso só durou três meses.”

Infelizmente, só durou três meses. No dia nove de julho de 1985, voltando de uma noite de trabalho no Armazém, Luiz Henrique sofre um acidente automobilístico e acaba falecendo poucas horas depois. Na época, ele morava na Rua Corália Ferreira da Luz, no centro de Florianópolis, com sua segunda esposa, Patrícia da Silva, e os dois filhos do casal: Manoel e Raulino. Além deles e de Alicinha, filha do primeiro casamento, Luiz Henrique também deixou sete irmãs e muitos fãs e amigos desolados. Ele tinha apenas 47 anos.

O sucesso dos primeiros meses do Armazém Vieira, segundo Vera, não durou depois do acidente que levou a vida de Luiz Henrique. O espaço, é claro, continuou por muitos anos, se reinventando em sua proposta e sendo frequentado até o fim de suas atividades, encerradas em 2023. O prédio, tombado como patrimônio material, continua lá, no mesmo lugar, para ajudar a contar essa história.

Das coisas que não deu tempo de fazer

Para alguém proativo como Luiz Henrique, 47 anos é muito pouco tempo. Como podemos ver, até os últimos momentos de vida ele estava empenhado em realizar os mais diversos projetos em prol da promoção da cultura e das artes. E é claro que, pesquisando e conversando com familiares, descobri outras coisas que ele planejava, mas não teve tempo de realizar.

Raulino, seu filho, me conta que “o sonho dele era ter um estúdio na Praia do Santinho, em um dos costões, onde a proposta dele era trazer grandes artistas nacionais e internacionais e deixá-los expostos à natureza – imagina a Praia dos Santinhos nos anos 70, né? – a ideia era trazer esses grandes artistas para que, nesse ambiente, pudessem explorar toda a criatividade e gravar. Era o sonho dele, cara. Acho que tanto a Gamasom quanto a Itagra eram o início da implantação daquilo que ele provavelmente faria se não tivesse falecido, tenho certeza disso.”

Já Vera, sua irmã, fala que “ele tinha um projeto que já estava totalmente pronto na escrita, que era o Museu da Imagem e do Som (MIS). Esse material estava nas nossas mãos por muitos anos depois que ele morreu, a gente guardou, mas não sei como que desapareceu, não sei onde que foi parar isso.”

Até onde chequei, Ieda Beck – que foi diretora do filme biográfico sobre Luiz Henrique – afirma esse seu apoio pioneiro na batalha pela criação do Museu, que veio a se dar apenas em 1998 e está hoje localizado na ala norte do CIC, no bairro Agronômica.

A memória de Luiz Henrique

Com o passar dos anos, a memória de Luiz Henrique vem sendo exaltada na cidade que ele tanto amou. Porém, dentre todos que conversei para essa matéria, é quase unânime a afirmação de que isso não é feito de forma equivalente ao valor da obra e da relevância de todos os movimentos que Luiz fez em sua carreira.

Ainda em 1988, três anos após sua morte, a Prefeitura de Florianópolis nomeou o largo central do Mercado Público da cidade com o nome de Espaço Cultural Luiz Henrique Rosa.

Seu filho Raulino, que tinha apenas quatro anos de idade quando Luiz faleceu, é quem conduz a maioria das ações de manutenção da memória do pai, sendo administrador do site e das redes sociais que divulgam seu trabalho. Também é ele quem lida com as burocracias e negociações de atividades de terceiros relacionadas à obra de Luiz Henrique.

O site, hoje com domínio oficial e contendo a obra publicada do artista disponível para audição, foi criado ainda em 2003, quando Raulino tinha apenas 16 anos. “Então foi assim, muito novo, sem investimento financeiro e com pouco acesso às informações, que eu fui aprendendo sobre a história dele, aprendi a fazer site, aprendi a editar vídeo e fui me envolvendo cada vez mais, conversando com pessoas que conviveram com ele e assim eu fui absorvendo, tendo, é evidente, o privilégio de ter acesso as coisas dele. Eu não sou um pesquisador profissional, não sou jornalista, mas por eu ser filho eu tenho acesso as coisas, as pessoas me contam coisas.”

A Bossa Sempre Nova de Luiz Henrique

Antes ainda do filme de Ieda, lançado em 2008, outra ação importantíssima para reavivar a memória de Luiz Henrique e trazer as suas canções para novas gerações foi a criação do álbum A Bossa Sempre Nova de Luiz Henrique.

Idealizado por Roberto Costa, proprietário da agência de publicidade Propague, em uma ação de comemoração aos 40 anos da empresa, o álbum reuniu importantes cantores da música popular brasileira para realizarem releituras das obras de Luiz. São eles: Martinho da Vila, Elza Soares, Ivan Lins, Luiz Melodia, Sandra de Sá, Biá Krieger e Toni Garrido. Lançado em 2003, a produção do disco ficou a cargo de outro Luiz, também florianopolitano e violonista de mão cheia: Luiz Meira.

Meira, que já tocou com nomes como Gal Costa, Sá e Guarabyra, Beto Guedes, Leny Andrade, Elza Soares, Luiz Melodia e outros, morava no Rio de Janeiro na época do convite para essa produção, o que facilitou o contato com esses músicos e proporcionou um registro digno da grandeza dessa obra.

Meira também conversou comigo para essa matéria, e disse que, além da produção, escolha dos músicos e gravação das faixas, ele também foi responsável pela seleção do repertório. “O Luiz Henrique, na real, não teve uma obra extensa, com muitas composições. Mas ele tinha um número considerável de composições – e composições muito boas, inclusive! E desse universo ali da obra dele, eu escolhi essas 13 músicas e comecei o trabalho de pesquisa, fui ver qual música se adaptava ao cantor, fui pesquisar cantores, entrei em contato com os empresários pra ver quem queria participar desse projeto. Foi um processo que durou aí acho que uns seis ou sete meses, desde o início do convite do Roberto Costa, até o fim da gravação.”

Após o álbum pronto, houve também um espetáculo no CIC que serviu de lançamento do trabalho e também de comemoração aos 40 anos da Propague. Transmitido como especial da RBS de Santa Catarina em horário nobre, domingo à noite, o show teve Luiz Meira – e sua banda selecionada – cantando as canções de Luiz Henrique junto de Elza Soares, Sandra de Sá e Luiz Melodia.

“Esse projeto foi uma experiência muito importante pra minha vida e muito prazerosa. Fazer um resgate da obra do Luiz Henrique foi um dos grandes projetos que eu fiz na vida e que me deu a oportunidade de conhecer muita gente. Eu devo ao projeto ter conhecido Elza Soares mais a fundo, a Sandra de Sá, o Luiz Melodia, que se tornou meu amigo, depois fiz shows com ele. Ivan Lins também, Jotinha Moraes, enfim, contato com muita gente bacana que viraram minhas amigas e que são de muita importância no cenário do Rio de Janeiro e da música brasileira.”

Outras homenagens

Depois do álbum A Bossa Sempre Nova de Luiz Henrique, a obra dele parece ter sido mais relembrada pelos florianopolitanos. Em 2014, Luiz foi tema do samba-enredo da escola Império Vermelho e Branco, com a canção “Luiz Henrique Rosa – No Caminho das Estrelas, o Amor à Ilha”.

Diego Raimundo é um músico e compositor que morou certo tempo em Florianópolis. Em 2014 ele toma contato com a obra de Luiz Henrique e, nos anos seguintes, participa de belas homenagens ao compositor. Em entrevista para essa matéria, ele me conta como elas aconteceram.

“A primeira homenagem que fiz ao Luiz Henrique foi no Cozalinda, junto com o Guia do Manezinho. Era um passeio do Guia que terminava lá, onde eu tava tocando canções do Luiz Henrique.”

“A segunda ocasião em que homenagiei o Luiz Henrique foi junto com o Igor [de Patta] e o Guilherme [Ledoux] (ambos membros da banda Skrotes). Eu e o Igor somos amigos há um bom tempo e já tínhamos feito algumas gravações juntos. Nós sempre estávamos tocando músicas do Luiz Henrique e tal, aí eu comecei a fazer um fogo pra gente fazer um evento em homenagem e aí a gente fez essa live e lançou ela no dia da morte dele, dia nove de julho. Foi uma coisa feito com nosso esforço e dinheiro do nosso bolso e a Vinil Filmes nos deu uma força.”

Luiz Henrique nos streamings

O século XXI veio mesmo para marcar a memória de Luiz Henrique e apresentá-lo para uma nova geração. O próximo passo para isso foi a disponibilização de sua obra nas plataformas, coisa que só foi começar a acontecer em 2019, depois de Raulino passar alguns anos em negociações com as gravadoras. “Em 2015 nós retomamos o contato com a Universal Music, que foi quem comprou as gravadoras e selos por onde meu pai passou: a Verve e também a Fontana, que seria a versão da Phillips americana. Então houve o processo de reativação de conta, onde o artista ou o responsável pela sua obra tem que emitir uma série de documentos, fazer a tradução com tradutores juramentados, um processo longo. Aí em 2019 conseguimos a ativação da conta e retomamos a administração da obra dele. A partir daí foi muito rápido, creio que em poucos meses a Universal disponibilizou todos os álbuns que estavam sobre a responsabilidade deles, que eram o Findind a New Friend, Listen To Me, Barra Limpa, Popcorn e Bobby/Billy/Brasil.”

O que demorou bastante foi a disponibilização do primeiro álbum de Luiz Henrique, gravado no Rio de Janeiro e que estava sob a responsabilidade da Universal Music do Brasil. “Aí demorou bastante, bastante burocracia. Só em 2022 conseguimos. Foi um processo bem burocrático de ativar a conta, pois eles têm que contatar todos os músicos e compositores envolvidos no álbum ou quem ficou responsável por suas obras.” Quando conseguiram a liberação, foram disponibilizados tanto a Bossa Moderna de Luiz Henrique, como o compacto duplo de “Garota da Rua da Praia”, o compacto ao vivo com “Sambou, Sambou” e “Amor 6×8” e dois singles de canções gravadas ao vivo: “Alicinha” e “Mas Que Nada”.

Mestiço remasterizado

Outro lançamento muito importante de Luiz Henrique aconteceu em 2022: a versão remasterizada do álbum Mestiço, de 1975. Feito pelos produtores da Somatória do Barulho, de São Paulo, o trabalho foi lançado com três faixas inéditas, encontradas nos rolos de fita das gravações originais. “Here I Am”, “Here I Am (Parte 2)” e “Improviso em Em” foram enviadas junto ao pacote do disco, mas em um compacto duplo separado.

O primeiro contato de Caio, um dos responsáveis pela Somatório do Barulho, para a realização da remasterização de Mestiço, foi ainda em 2016, quando ele chamou Raulino, falou de sua admiração pelo álbum e o interesse de relançá-lo em vinil. No primeiro momento, Caio falou da importância de ter as masters do álbum para realizar o trabalho. Raulino foi atrás disso e, quando encontrou o que ele achou que seria esse material, descobriu que nele ainda faltavam algumas faixas. Após essa frustração, Raulino entrou em contato com Paulo Fuganti, amigo e ex-cunhado de Luiz Henrique, que tinha tanto as masters completas do Mestiço, quanto as faixas inéditas. Após todo o processo realizado, que durou cerca de seis anos, o LP foi lançado pela Somatória e publicado nos streamings por Raulino. “Quando o Caio entrou em contato comigo, eu já vinha trabalhando com as redes sociais do meu pai e, nesse processo longo, até a gente conseguir transformar o Mestiço em algo físico novamente e lançar ele, outras empresas entraram em contato comigo interessadas em fazer esse lançamento, todas da Europa. Elas prometiam que fariam rápido e tal, e eu decidi não partir pra outra porque o Caio, desde o início, teve um respeito muito grande, focou muito em contar a história, respeitando esse trabalho, sabe? Não era só o produto, e sim a história do artista.”

“Acontecer de eu ser gente / E gente é outra alegria / Diferente das estrelas

Diferente das estrelas que começaram a brilhar na mesma época em que ele começava a chamar a atenção do mundo da música, o legado de Luiz Henrique ainda é referenciado de maneira tímida, sendo pouco reconhecido mesmo na cidade que tanto viveu, cantou e amou.

As motivações dessa falta de reconhecimento podem ser muitas. Luiz Meira me disse que “o Luiz Henrique não era um cara muito conhecido aqui porque justamente ele se ausentou do mercado fonográfico brasileiro, se ele tivesse ficado no Rio, se começasse a se enturmar mais com os grandes nomes da bossa nova, ele provavelmente solidificaria mais a carreira dele no Brasil e, por consequência disso, seria mais conhecido do grande público.”

Depois da própria gravação do álbum-homenagem produzido por Luiz Meira, das homenagens públicas da cidade e das feitas por músicos locais, além da disponibilização da obra de Luiz Henrique nos streamings, Raulino acha que a coisa já começou a mudar, mas essa ação também lhe mostrou aonde seu pai é realmente mais reconhecido. “A disponibilização das músicas dele nos streamings foi importante para que mais gente conhecesse a obra, mas isso nos trouxe uma certeza de algo que nós já imaginávamos, porque agora nós temos os números, então a gente sabe onde a música dele, organicamente, é mais escutada.” Raulino sempre fez esse esforço de contar a história de seu pai relacionada com Florianópolis, tanto na mídia tradicional como nas redes sociais. Mas, ainda assim, a música de Luiz Henrique toca muito mais fora do Brasil, mesmo sem nenhum trabalho de divulgação. Principalmente na França, Alemanha, Rússia, Holanda e Estados Unidos.

Mas Raulino não acha que todo esse trabalho foi em vão. Segundo ele, logo após a publicação dos álbuns no Spotify, a primeira cidade brasileira no ranking das que mais ouviam as músicas era São Paulo, que estava em sexto lugar. Hoje, a mesma São Paulo ostenta a segunda colocação, muito devido ao relançamento de Mestiço pela Somatória do Barulho, que é de lá. Rio de Janeiro está em quarto lugar. Porém, Florianópolis ainda não aparece nem entre as cinco cidades que mais ouvem Luiz Henrique.

Sendo assim, se Luiz Henrique pudesse voltar no tempo e fazer diferente – será que ele faria? Se, de onde quer que esteja, pudesse ver sua cidade lembrando tão pouco dele – será que ele iria para o Rio de Janeiro ser par de Marcos Valle, Jorge Ben e tantos outros? Sua irmã Vera, que conviveu intensamente com ele nos 14 e últimos anos de sua vida, acredita que não.

“Eu entendo perfeitamente a escolha dele. Porque ele amava Florianópolis, né? Igual a todos nós que amamos Florianópolis, é um lugar maravilhoso. Então ele voltou porque mamãe tava doente e resolveu ficar porque, ele dizia, não precisava mais voltar pros Estados Unidos, que ele queria ficar na Ilha mesmo. Era amor o que ele tinha por Florianópolis, essa vida simples, os amigos. No Rio de Janeiro teve convites para ele ir, mas ele não quis. Ele era muito chegado às nossas coisas da Ilha. Ele achava que também não precisava ir para o Rio de Janeiro pra fazer nada, que já tinha feito o que tinha que fazer e o que mais ele quisesse fazer, poderia ser em Florianópolis mesmo. […] Se ele foi satisfeito morando esses últimos anos aqui? Sim, com certeza. Até porque ele viu o resultado, né? Tanto é que hoje tu vai em qualquer lugar e tem música ao vivo, e se não fosse o incentivo dele em começar, não sei se teria isso.”

Nessa minha pesquisa, encontrei pessoas que até hoje questionam o destino ilhéu de Luiz Henrique. Quem viveu com ele e conheceu seu potencial, muitas vezes acha que suas escolhas e a gestão de sua carreira não foram as melhores para que ele alcançasse o estrelato que sua obra mereceria. Acontece que Luiz Henrique foi gente. E gente é outra alegria, diferente das estrelas.

Playlist:

Começa um pouco mais sobre a obra de Luiz Henrique nesta playlist feita exclusivamente para essa matéria. Nela, inclui músicas de toda discografia de Luiz, além de gravações de sua obra feita por outros artistas e demais canções citadas no texto:

Referências:

  • Filme Luiz Henrique – No Balanço do Mar, de Ieda Beck;
  • Entrevista concedida por Luiz Henrique para o radialista Aramis Millarch, em 1979;
  • Dissertação de mestrado de Wellinton Carlos Correa sobre a carreira de Luiz Henrique; 
  • Material publicado pela Somatória do Barulho em suas contas no Instagram e YouTube;
  • Material publicado por Raulino Rosa nas redes oficiais de Luiz Henrique no Instagram e YouTube;
  • Entrevistas com Luiz Meira, Diego Raimundo, Josué Irineu da Silva, Orlando Carlos da Silveira Mello (o Neco), Raulino Rosa e Vera Rosa;

As fotos não creditadas me foram cedidas por Raulino Rosa através do acervo pessoal que ele mantém com diversos materiais sobre Luiz Henrique. Nenhum de nós dois conseguiu identificar os créditos.

Aproveito para agradecer aos amigos Arthur Boscato e Saira Gasparin por terem feito fotos a meu pedido para essa matéria.

Agradeço também ao meu amigo Rodolfo Keoma pela bela arte usada como destaque dessa matéria, feita com inspiração no traço do artista plástico florianopolitano Hassis.

Uma resposta para “Luiz Henrique, suas histórias e estrelas”.

  1. Avatar de Um samba para Antonieta de Barros – O Curiosólogo

    […] o Bom Partido tava no Noel – que tem uma tradição antiga de música, antes da gente ainda: Luiz Henrique Rosa frequentava o boteco, fazia seresta, Zininho tava nesses rolês, enfim, tinha uma história. Você […]

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